Maioria dos meteorologistas prevê um evento de El Niño moderado a forte no segundo semestre, mas há vozes de cautela
Autor: ESTAEL SIAS
Que os próximos meses devem ser influenciados pelo fenômeno El Niño já se sabe após o anúncio de que um episódio teve início, mas na comunidade meteorológica não há consenso sobre a intensidade do fenômeno neste segundo semestre de 2023 e no começo de 2024.
Uma das ferramentas mais utilizadas pelos meteorologistas para prognosticar as condições do Oceano Pacífico é o levantamento do International Research Institute (IRI), da Escola de Clima da Universidade de Columbia, em Nova York, Estados Unidos. Mensalmente, o IRI publica um gráfico e uma tabela com as anomalias de temperatura da superfície do mar previstas para a região Niño 3.4 que corresponde ao Pacífico Centro-Leste na região equatorial. São duas dezenas de modelos de clima, divididos em dinâmicos e estatísticos. Então, há uma imensa diferença entre os que os modelos do tipo dinâmico e os estatísticos indicam para o Pacífico nos próximos meses. Os dinâmicos apontam um evento de El Niño moderado a forte e alguns até muito forte enquanto a média dos modelos estatísticos projeta uma situação apenas limítrofe entre neutralidade e El Niño. Vejamos o caso do último trimestre deste ano, que corresponde ao período de outubro a dezembro. A média dos modelos climáticos dinâmicos indica uma anomalia de temperatura da superfície do mar de +1,67ºC, logo El Niño forte. Para o mesmo trimestre, a média de modelos estatísticos aponta +0,44ºC, uma neutralidade quente e sem El Niño. Vários meteorologistas ressalvam que existem dois modelos de menor índice de acerto que derrubam esta média dos modelos estatísticos e que, por isso, os dinâmicos estariam mais perto da realidade. O modelo estatístico BCC_RZDM da China e o IAP-NN, da Rússia, projetam Pacífico mais frio que a média. O chinês sinaliza anomalia de La Niña.
O climatologista Gavin Schmidt, director do Goddard Institute for Space Studies (GISS), da NASA, em Nova York, também está cauteloso sobre a possibilidade de um El Niño intenso ou um Super El Niño mais tarde neste ano. “A sabedoria convencional presta atenção às previsões do IRI, mas as previsões dinâmicas projetam um El Niño muito forte enquanto os modelos estatísticos são muito menos otimistas. A previsão de consenso divide a diferença para mais ou para menos, mas é bastante grande a diferença”, observa. Ele propõe um outro método, de analogia histórica, usando simulações de modelos climáticos existentes. “A ideia é examinar centenas de anos de simulações e escolher os anos que mais se parecem com os de hoje e prever usando a média do que aconteceu”, explica. E o que esse método sugere? Basicamente, segundo Schmit, El Niño com anomalia ao redor de +1,0ºC no final deste ano, no limite de fraco a moderado, portanto sem um evento muito forte ou Super El Niño.
A corrente contrária, que acredita em um El Niño de maior intensidade, sustenta que dados atuais, e não previsão, indicam que o aquecimento em curso está entre os maiores observados entre os oito eventos de El Niño mais fortes desde 1950, sinalizando a probabilidade de evento de maior intensidade em linha com o que indicam os modelos dinâmicos. É o que defende, por exemplo, Tyler Stanfield do Serviço Nacional de Meteorologia (NWS), dos Estados Unidos. “Estamos confortavelmente colocados no grupo dos oito principais eventos do El Niño desde 1950, e é por isso que a confiança é maior de que um evento mais forte está se desenvolvendo”, afirma Stanfield.