A tradição é passada de pai para filho por meio de símbolos como o toque da caixa, o rufar dos tambores, o rodar das saias em louvor ao Divino Espírito Santo e à Santíssima Trindade
“Aonde tu vai, rapaz, por esses caminhos sozinhos? Vou fazer minha morada lá nos campos do Laguinho”. Quem não conhece esses cantos? Os versos, também chamados de ladrões, são entoados nas rodas de marabaixo, a principal manifestação cultural do Amapá.
O Dia Estadual do Marabaixo, celebrado nesta sexta-feira, 16, foi criado para exaltar a história da tradição dos povos afro-amapaenses, que é reconhecida como patrimônio cultural imaterial do Brasil. O Governo do Amapá valoriza e reconhece a importância dessa cultura. Em 2023, garantiu apoio para a realização do Ciclo do Marabaixo e criou a Central do Marabaixo, um espaço onde os grupos tradicionais puderam expor os símbolos que representam a história dessa manifestação cultural.
“É uma história cultural que nasce com a construção desse local chamado Amapá. Celebrar o Marabaixo é celebrar a nossa história e ajudar a difundir cada vez essa manifestação cultural tão importante”, disse a secretária de Estado de Cultura, Clícia Vieira Di Miceli.
Riqueza cultural
O marabaixo é um símbolo de resistência das comunidades afro-amapaenses. A história da manifestação cultural remonta ao período de escravidão no Brasil, quando o Amapá ainda era parte do atual estado do Pará.
Registros do jornal O Liberal, de 1872, relatam pessoas negras escravizadas colhendo galhos de murta (uma planta encontrada nas matas do Curiaú) para enfeitar o mastro em homenagem à Santíssima Trindade. Um ritual que se mantém nos dias atuais.
Os versos que abrem essa matéria relatam um período histórico, na década de 1940. Com a elevação do Amapá para território federal, a população negra que vivia no centro de Macapá foi removida para a parte da cidade atualmente conhecida como bairro do Laguinho.
De geração em geração
A tradição é passada de pai para filho por meio de símbolos como o toque da caixa, o rufar dos tambores, o rodar das saias em louvor ao Divino Espírito Santo e à Santíssima Trindade.
Fazem parte dos costumes o consumo da gengibirra, bebida feita à base de gengibre, açúcar e aguardente, que é servida nas rodas de dança e serve como “combustível” para festeiros e para “curar” a garganta dos cantores dos ladrões. Para dar energia aos participantes, são servidos pratos como cozidão e porco guisado. Os alimentos sempre são compartilhados com as comunidades, como forma de fortalecer os laços.
Patrimônio cultural
O marabaixo é a mais autêntica manifestação cultural amapaense e, em novembro de 2018, recebeu o título de Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Histórico Nacional (Iphan).