Dólar volta a ganhar força no mundo

Índice do dólar americano se encontra agora no seu nível mais elevado em seis meses, impulsionado por uma série de dados econômicos positivos dos Estados Unidos nas últimas semanas

Taxas de juro mais elevadas tendem a aumentar o valor da moeda de um país, atraindo mais capital estrangeiro, uma vez que os investidores antecipam retornos maiores

O dólar norte-americano caminhou para a oitava semana consecutiva de ganhos em relação a uma cesta de outras moedas importantes na sexta-feira (8), seu melhor desempenho desde o inverno de 2014-2015. Ganhou 5% desde meados de julho.

A recuperação ocorre após meses de volatilidade, alimentada por preocupações de que o dólar possa estar a perder o seu estatuto de moeda de reserva mundial.

As especulações sobre a potencial desdolarização do comércio global aumentaram novamente no mês passado, após a expansão liderada pela China do grupo de nações Brics para incluir grandes produtores de petróleo, como a Arábia Saudita.

“Os rumores sobre o desaparecimento do dólar americano continuam muito exagerados”, disse James Athey, diretor de Investimentos da Abrdn, uma gestora de ativos, à CNN.

O índice do dólar americano, que se encontra agora no seu nível mais elevado em seis meses, foi impulsionado por uma série de dados econômicos positivos dos Estados Unidos nas últimas semanas – alimentando expectativas de que o Fed (Federal Reserve – o banco central dos EUA) manterá as taxas de juro mais elevadas durante mais tempo.

Taxas de juro mais elevadas tendem a aumentar o valor da moeda de um país, atraindo mais capital estrangeiro, uma vez que os investidores antecipam retornos maiores.

Entretanto, nuvens de tempestade acumularam-se sobre as economias da China e da Europa.

“A economia dos EUA continua a demonstrar uma força notável, enquanto as questões na China e na Europa, em particular, parecem estar a evoluir para uma situação muito mais recessiva”, acrescentou Athey.

Economia resiliente dos EUA

O desemprego nos EUA está próximo do seu nível mais baixo em 50 anos. As contratações continuam sólidas, tendo atingido o 32º mês consecutivo de crescimento em agosto. E os salários, quando ajustados pela inflação, estão subindo.

Muitos economistas reviram em alta as suas previsões de crescimento em resposta a todas as boas notícias. Uma chamada “aterrissagem suave” – isto é, quando um banco central reduz com sucesso a inflação sem levar a economia à recessão – parece agora cada vez mais provável.

“A economia dos EUA continua a surpreender positivamente”, disse Carsten Brzeski, chefe global de Investigação Macroeconômica do ING, à CNN. “[Parece] ser mais resiliente do que se temia.”

Isso deverá dar aos consumidores norte-americanos a confiança necessária para continuarem a gastar – e ao Fed dos EUA um maior incentivo para manter as taxas de juro fixas no máximo dos últimos 22 anos, numa tentativa de arrefecer a inflação.

A Fed tem “menos motivos para cortar agressivamente as taxas no próximo ano”, disse Brzeski, acrescentando que um desempenho econômico comparativamente fraco da Europa deixa “muito pouco espaço para o [Banco Central Europeu] continuar a aumentar” a sua principal taxa de empréstimo.

Russ Mold, diretor de investimentos da AJ Bell, disse à CNN que a diferença entre as duas taxas de juro – “e a perspetiva de que poderá permanecer e não diminuir” – foi um “grande fator no renascimento do dólar”.

Economias fracas em outros lugares

A Europa e a China estão numa situação econômica complicada.

O euro perdeu 4,4% do seu valor, sendo negociado a US$ 1,07 desde meados de julho. O yuan chinês caiu 2,6% nesse período, atingindo o seu nível mais baixo em relação ao dólar em 16 anos.

Embora os EUA possam conseguir uma “aterrissagem suave”, disse à CNN Athanasios Vamvakidis, chefe da Estratégia FX do G10 no Bank of America Global Research, “a zona euro parece mais próxima de um cenário de estagflação” – a temida combinação de inflação elevada e pouca, se qualquer, crescimento econômico.

A agência oficial de estatísticas europeia revisou para baixo na quinta-feira (7) a sua estimativa de crescimento do PIB para os 20 países que usam o euro, de 0,3% para 0,1% para o segundo trimestre deste ano.

A produção industrial na Alemanha caiu pelo terceiro mês consecutivo em julho, mostraram também dados oficiais na quinta-feira, somando-se a uma série de problemas para a maior economia da Europa.

Um euro mais fraco provavelmente fará subir o preço das importações, por sua vez, alimentando a inflação. Somando-se à pressão ascendente estão os preços do petróleo bruto, que subiram nas últimas semanas, à medida que a Arábia Saudita e a Rússia prolongaram as restrições à oferta.

A economia da China também enfrenta uma onda de enormes desafios: os preços no consumidor estão caindo, a crise imobiliária está se aprofundando e as exportações estão em queda.

O Banco Popular da China cortou as principais taxas de juro sobre hipotecas e sobre os empréstimos concedidos aos bancos nos últimos meses para ajudar a impulsionar a procura de crédito.

“A fraqueza da China não pesou apenas sobre o yuan, mas sobre outras moedas importantes da região, bem como sobre os principais parceiros comerciais, incluindo o euro”, disse Alex Cohen, estrategista-sênior de Câmbio do Bank of America Global Research, à CNN.